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Foi você quem vazou aquelas suas fotos no Facebook?


Não basta o controle de privacidade da rede social para salvar sua reputação.

Estão todos preocupados com fotos que vazaram na internet. Carolina Dieckmann, Scarlett Johansson, Rihanna, Kiowa Gordon, Jamie Foxx, Miley Cyrus. E você? Afinal, caiu na rede é peixe; e é cada vez maior o número de pessoas correndo atrás do prejuízo.

Não importa se a publicação foi intencional ou se tais imagens foram usurpadas. Quero pensar como essas questões ganharão uma proporção maior muito em breve. Antes mesmo da era digital, muitas celebridades já tiveram que se desdobrar para controlar a exposição de suas vidas. Agora, esse problema atinge qualquer pessoa.

Considere essa nova geração, que desde muito jovens, aprenderam a compartilhar todos os momentos do seu dia-a-dia no Facebook. Imagine quando estes adolescentes crescerem e seus chefes e demais colegas de trabalho tiverem acesso a fotos do seu passado. Como irão interpretar tudo aquilo?

O que será navegar numa “timeline” com 20, 30, 40 anos de dados acumulados?  Pense que essa nova geração vai crescer e ter seus próprios filhos. Eles terão acesso a um volume de informação sobre seus pais que nunca antes foi possível. Os filhos adolescentes poderão ver fotos de seus próprios pais ainda adolescentes; e conferir tudo o que eles publicavam na época. Que impacto isso pode ter? Como isso poderá influenciar na formação desse jovem? Não ficarei surpreso se essa geração seguinte tornar-se mais conservadora do que a anterior.

Por isso, vou sempre alertar: vivemos a Era da Exposição. Para quem lida com comunicação, é importante ter isso em mente. A exposição é o artifício por trás de qualquer rede social. Se hoje redes como o Facebook fazem mais sucesso a cada dia, é porque nossa sociedade, sem ter consciência, anseia essa exposição.

Esse artifício também está presente em muitas das campanhas de comunicação e ações inovadoras que apresentam características colaborativas e interativas. Por trás há sempre algum aspecto que envolve a exposição do consumidor.

Inserir na mecânica da ação a participação do consumidor e fazer com que de alguma forma, ele seja exposto na comunicação do produto, é receita de repercussão garantida.

Esse é o cenário atual, é onde nos encontramos. Não pense que você está isento, escondendo-se atrás das configurações de privacidade. Se você gosta de brincar de Instagram no seu iPhone, então você faz parte sim dessa sociedade da (auto)exposição. Manter o perfil do Instagram fechado apenas restringe sua audiência, nada mais do que isso.

Também não pense que você tem controle completo sobre sua imagem na rede. Simplesmente para efeito de pesquisa, em 2003 resolvi iniciar uma experiência: em nenhuma rede social eu iria publicar uma foto da minha pessoa. Ainda mantenho essa prática. Porém se você fizer uma busca hoje no Flickr por “Eric Messa”, encontrará várias fotos em que eu apareço. Imagens feitas por outras pessoas. Ou seja, temos controle do que é publicado, mas somente até a página 2 do livro que versa sobre a distribuição e compartilhamento livre na web.

Numa rápida consulta à web, todos saberão em qual classificação o jovem estudante entrou na universidade. Nos anos seguintes, se ele ganhar algum concurso, isso também ficará registrado. Quando casar, com certeza o fotógrafo da cerimônia irá aproveitar algumas fotos para o seu portfolio online. O videomaker publicará no Youtube. Quando tiver um filho, ele vai tirar uma foto e colocar na rede. Logo nos primeiros dias de vida o bebê já perdeu o controle da sua imagem. Conclusão: você estará na web, seja por vontade própria, ou não.

Assim, não é a configuração do seu perfil que vai salvar sua reputação, mas a consciência crítica de tudo que é publicado. Vou mais longe, a consciência dos seus atos públicos. O que você faz entre quatro paredes não interessa a mais ninguém além de você, por isso não deveria nem ser registrado com a câmera do celular. Já o que acontece além dessas paredes pode cair na rede com mais facilidade. Esteja ciente disso.

Não se esqueça disso que chamo de Era da Exposição, tanto na hora de decidir o que publicar no seu Facebook, quanto na hora de criar uma estratégia de comunicação que, de preferência, aproveite de forma responsável esse desejo do consumidor pela exposição.





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Publicado originalmente na coluna da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXIII, núm.: 1511, pág. 08. São Paulo: Editora Meio e Mensagem, 28/05/2012.  


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