O meio impresso perdeu leitores não só por conta do apelo que o meio digital tem entre os jovens. Aliás, considerar que digital é coisa de jovem - em pleno 2016 - não é só um atestado de ignorância, mas também um atestado de cegueira, afinal é só olhar para os espaços públicos e notar como praticamente ninguém mais lê jornal ou revista. Agora estão todos “lendo” um celular.
Mas como disse, a questão não é só o digital. O jornal por exemplo, vem perdendo leitores pois independentemente da idade, quase ninguém mais tem aquele hábito antigo (característico do jornal) de fazer uma leitura tranquila pela manhã, antes de sair para o trabalho. O mercado acelerou o ritmo do homem. Hoje já acordamos trabalhando. Tem gente que acorda e imediatamente já está respondendo whatsapp do trabalho, mesmo antes de sair da cama.
E vou além, se não temos mais tempo para ler um jornal impresso, quem consegue, em meio à correria do nosso dia a dia, parar por cerca de uma hora para ler com calma um portal de notícias? Minha hipótese é a de que está diminuindo o número de pessoas que acessam a página de entrada dos sites de notícias.
Nem por isso as pessoas andam desinformadas. Não é essa minha conclusão. Apenas o comportamento delas que mudou. As pessoas continuam consumindo notícias, mas ao longo do dia, de forma fragmentada, através das redes sociais.
Alguns apontamentos ajudam a comprovar essa minha hipótese. O primeiro deles é você próprio. Observe quantas notícias você ficou sabendo por conta de um “post” compartilhado nas redes e só então você entrou no site que traz a matéria completa. Note como o hábito de acessar a página de entrada do seu jornal preferido perde lugar para um novo comportamento. Quem é assíduo das redes prefere “seguir” determinado jornal numa plataforma de redes sociais em lugar de acessar o seu respectivo site.
Um indicio desse comportamento é visível quando comparamos o volume de consultas ao Google pelos termos “site Estadão” e “Facebook Estadão”. Nota-se claramente que ao longo dos anos, a procura pelo link e consequentemente, o interesse por acompanhar o Estadão nas redes cresce incrivelmente e torna-se bem maior do que aqueles que procuram o portal na internet.
Resultado semelhante encontramos se compararmos outros veículos de mídia como “site G1” e “Facebook G1”, ou então “site Le Figaro” e “Facebook Le Figaro”.
Outro dado que complementa essa minha hipótese: o relatório Mídias Sociais 360o (publicado trimestralmente pelo Núcleo de Inovação em Midia Digital da FAAP em parceria com a Socialbakers) mostra que no último trimestre de 2015, as principais páginas brasileiras no Facebook de mídia/notícias tinham em média, mais de 3 milhões de curtidas. No segundo trimestre de 2014, eram cerca de 2 milhões de curtidas; ou seja, ao longo do ano só cresceu o número de pessoas interessadas em acompanhar as publicações das páginas de midia/notícias no Facebook.
Vale acrescentar também que esse novo comportamento está diretamente relacionado à migração do consumo de informação do computador de mesa para os dispositivos móveis. Segundo relatório “Brasil Conectado” publicado em 2014 pelo IAB Brasil, o uso da internet a partir de computadores de mesa, seja em casa, no trabalho ou na escola, vem caindo desde 2012. No mesmo período, só cresce o uso da internet por dispositivos móveis.
Com isso, meu argumento é que no celular, a consulta por informação é fragmentada, pontuada pelos intervalos do cotidiano, ou seja, surge um novo comportamento de consumo de midia.
Quem trabalham com comunicação deveria observar atentamente tudo isso. Principalmente quem trabalha com mídia. É preciso olhar para esse novo comportamento na hora de montar um plano de mídia. Não basta apenas descobrir qual portal ou rede social seu público utiliza. É preciso olhar atentamente como se dá o consumo de informação ao longo do dia daquele determinado público, para descobrir qual horário exato o “post” deve entrar na rede. Também é preciso identificar em quais páginas específicas do portal de notícias deve-se anunciar ao invés de dispender uma grande verba anunciando na página de entrada do portal.
Para encerrar, outro hábito que está mudando: o mesmo relatório do IAB Brasil citado antes, aponta uma forte tendência de queda no consumo de rádio dentro do carro. Minha hipótese para essa queda é o crescente uso das plataformas de streaming de música como Spotify, Apple Music, Deezer e Tidal. Provavelmente essas plataformas são as novas companheiras do motorista para enfrentar o trânsito. Fique atento a isso. Já pensou em criar uma ação de comunicação envolvendo o Spotify e motoristas na hora do rush? Pode dar muito certo.
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Publicado originalmente na coluna "Opinião" da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXVII, núm.: 1698, pág. 08. São Paulo: Editora Meio e Mensagem, 22/02/2016.
Mas como disse, a questão não é só o digital. O jornal por exemplo, vem perdendo leitores pois independentemente da idade, quase ninguém mais tem aquele hábito antigo (característico do jornal) de fazer uma leitura tranquila pela manhã, antes de sair para o trabalho. O mercado acelerou o ritmo do homem. Hoje já acordamos trabalhando. Tem gente que acorda e imediatamente já está respondendo whatsapp do trabalho, mesmo antes de sair da cama.
E vou além, se não temos mais tempo para ler um jornal impresso, quem consegue, em meio à correria do nosso dia a dia, parar por cerca de uma hora para ler com calma um portal de notícias? Minha hipótese é a de que está diminuindo o número de pessoas que acessam a página de entrada dos sites de notícias.
Nem por isso as pessoas andam desinformadas. Não é essa minha conclusão. Apenas o comportamento delas que mudou. As pessoas continuam consumindo notícias, mas ao longo do dia, de forma fragmentada, através das redes sociais.
Alguns apontamentos ajudam a comprovar essa minha hipótese. O primeiro deles é você próprio. Observe quantas notícias você ficou sabendo por conta de um “post” compartilhado nas redes e só então você entrou no site que traz a matéria completa. Note como o hábito de acessar a página de entrada do seu jornal preferido perde lugar para um novo comportamento. Quem é assíduo das redes prefere “seguir” determinado jornal numa plataforma de redes sociais em lugar de acessar o seu respectivo site.
Um indicio desse comportamento é visível quando comparamos o volume de consultas ao Google pelos termos “site Estadão” e “Facebook Estadão”. Nota-se claramente que ao longo dos anos, a procura pelo link e consequentemente, o interesse por acompanhar o Estadão nas redes cresce incrivelmente e torna-se bem maior do que aqueles que procuram o portal na internet.
Resultado semelhante encontramos se compararmos outros veículos de mídia como “site G1” e “Facebook G1”, ou então “site Le Figaro” e “Facebook Le Figaro”.
Outro dado que complementa essa minha hipótese: o relatório Mídias Sociais 360o (publicado trimestralmente pelo Núcleo de Inovação em Midia Digital da FAAP em parceria com a Socialbakers) mostra que no último trimestre de 2015, as principais páginas brasileiras no Facebook de mídia/notícias tinham em média, mais de 3 milhões de curtidas. No segundo trimestre de 2014, eram cerca de 2 milhões de curtidas; ou seja, ao longo do ano só cresceu o número de pessoas interessadas em acompanhar as publicações das páginas de midia/notícias no Facebook.
Vale acrescentar também que esse novo comportamento está diretamente relacionado à migração do consumo de informação do computador de mesa para os dispositivos móveis. Segundo relatório “Brasil Conectado” publicado em 2014 pelo IAB Brasil, o uso da internet a partir de computadores de mesa, seja em casa, no trabalho ou na escola, vem caindo desde 2012. No mesmo período, só cresce o uso da internet por dispositivos móveis.
Com isso, meu argumento é que no celular, a consulta por informação é fragmentada, pontuada pelos intervalos do cotidiano, ou seja, surge um novo comportamento de consumo de midia.
Quem trabalham com comunicação deveria observar atentamente tudo isso. Principalmente quem trabalha com mídia. É preciso olhar para esse novo comportamento na hora de montar um plano de mídia. Não basta apenas descobrir qual portal ou rede social seu público utiliza. É preciso olhar atentamente como se dá o consumo de informação ao longo do dia daquele determinado público, para descobrir qual horário exato o “post” deve entrar na rede. Também é preciso identificar em quais páginas específicas do portal de notícias deve-se anunciar ao invés de dispender uma grande verba anunciando na página de entrada do portal.
Para encerrar, outro hábito que está mudando: o mesmo relatório do IAB Brasil citado antes, aponta uma forte tendência de queda no consumo de rádio dentro do carro. Minha hipótese para essa queda é o crescente uso das plataformas de streaming de música como Spotify, Apple Music, Deezer e Tidal. Provavelmente essas plataformas são as novas companheiras do motorista para enfrentar o trânsito. Fique atento a isso. Já pensou em criar uma ação de comunicação envolvendo o Spotify e motoristas na hora do rush? Pode dar muito certo.
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Publicado originalmente na coluna "Opinião" da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXVII, núm.: 1698, pág. 08. São Paulo: Editora Meio e Mensagem, 22/02/2016.
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