A maioria ainda vive uma fase que Marshall McLuhan já previu nos anos 60, quando estudou o surgimento de novos meios de comunicação: eles costumam ser ocupados por conteúdos com formato antiquado, oriundos dos meios anteriores.
Na internet, vemos acontecer algo do gênero: os portais dos importantes jornais e revistas do Brasil são uma mera replicação do seu formato impresso. Isso não funciona, pois além de estarmos num meio que tem características distintas dos meios anteriores, também estamos à frente de uma nova sociedade.
Nossa sociedade vive uma constante pressão por produtividade. Poucos possuem tempo para ler o jornal completo toda manhã. O estímulo pela cultura da economia e da sustentabilidade faz as pessoas acreditarem que assinar um jornal impresso é um desperdício, já que não conseguirá aproveitar por completo. Além disso, fica a impressão de que nem todas as notícias ali presentes são relevantes, pois a sociedade da cultura digital não aceita mais passivamente o que aparece à sua frente. Ela quer ver seus interesses participando e colaborando com o processo de comunicação.
Além da posição mais ativa, desenvolvemos ao longo das últimas décadas o desejo pelo consumo individualizado da informação. Não só trocamos o telefone pelo celular, mas também deixamos de assistir todos juntos um mesmo canal de TV na sala e passamos a consumir canais diferentes de TV, cada um num cômodo diferente da casa.
Na internet nem se fala. A possibilidade quase infinita de acesso à informação nos faz navegar à deriva em meio ao excesso de informação; e até agora, ninguém soube aproveitar adequadamente esse cenário.
Alguns portais de notícias experimentaram a possibiliade da personalização da página de entrada, em que é possível escolher as suas editorias de interesse, porém, em tempos de redes sociais, não é exatamente esse o nível de personalização que esperamos.
Como garantir a relevância de um portal de notícias na era da big data? Aqui vai a resposta: considere um portal que ao ser acessado, ele analisa os seguintes dados (claro, com a sua devida autorização prévia):
- seu histórico de navegação e notícias que leu nas visitas anteriores;
- sua ficha de cadastro no portal e todas as informações que disponibilizou lá (endereço, idade, faixa etária etc);
- os assuntos que você costuma comentar em seu facebook e twitter;
- as fanpages que você curtiu e as pessoas que você segue;
- os locais onde já fez check-in e o local exato em que você está;
- etc.
Coloque esses dados para serem processados e filtrados por um algorítimo que considere também, uma nota de relevância para todas as notícias que os jornalistas produzem para o portal e pronto, temos um site de notícias extremamente adaptado aos interesses de cada pessoa.
Ninguém mais acessará uma página de entrada com as mesmas notícias na manchete. E a classificação que o jornalista indica para cada reportagem vai garantir que o leitor não fique fechado em um círculo vicioso de informação sem ter acesso aos fatos importantes do mundo.
Eu pensei que o primeiro a lançar algo semelhante ao que acabei de citar seria Jeff Bezos, CEO da Amazon. Acredito que ele esteja preparando algo do gênero para o lançamento de um novo “The Washington Post”.
Porém, o portal Terra saiu na frente. Dia 31 de março será lançado em alguns países, dentre eles o Brasil, um novo portal do Terra que utiliza um algoritmo bastante semelhante ao que citei. No mês seguinte, esse novo portal será lançado para todos os demais países onde o Terra atua.
A plataforma de gerenciamento de todo conteúdo foi desenvolvida pela Adobe e pretende revolucionar a forma como o usuário consome informação nas redes. A interface do portal também foi bastante modificada. Agora, a proposta é uma navegação com poucas páginas e rolagem infinita. A página de entrada terá uma sequencia infinita de matérias, como a “timeline” de uma rede social.
A partir da próxima semana o Terra prometeu iniciar a distribuição de senhas de acesso para um pequeno grupo de usuários do portal, sorteados ao acaso. Este grupo será convidado a conhecer em primeira mão o novo portal.
Ao que tudo indica, o consumo diário de notícias não será mais como antes. Não se trata apenas da troca do suporte (do papel para o digital), mas da forma como a notícia é filtrada até chegar ao leitor. Nasce uma nova fase para o jornalismo. Saberão seus profissionais aproveitar a oportunidade?
-----------
Publicado originalmente no Update or Die, em 06/03/2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário