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O fetiche da mobilização

O caso da menina Tessa na Alemanha, de certa forma, tem pontos muito semelhantes com o "Churrascão da Gente Diferenciada" que aconteceu em São Paulo.

Na Alemanha, foi o convite para a festa de aniversário feito pelo Facebook, por uma menina de 16 anos, que logo mobilizou cerca de 15 mil pessoas, e mesmo após o cancelamento do convite, cerca de 1,6 mil apareceram na porta da casa da família.


Aqui em São Paulo, um convite também enviado pelo Facebook para um protesto bem humorado chegou a movimentar mais de 50 mil usuários da rede. O evento também foi cancelado, mas no dia marcado o protesto aconteceu e chegou a reunir cerca de 600 pessoas.


Em ambos os casos, é visível o tal fetiche pela capacidade de mobilização das redes sociais. Fala-se muito da superficialidade da "revolução de sofá", promovida por recursos como o botão "curtir" do Facebook. Os dois casos podem comprovar isso se olharmos para a diferença dos números entre as pessoas que participaram efetivamente do evento daqueles que apenas confirmaram no Facebook. Por outro lado, não podemos desprezar esse volume de pessoas que movimentaram-se até o local e realizaram - efetivamente - os dois eventos.

Outra boa referência para essa questão da repercussão de um fato nas redes sociais é o recente caso do clipe "Oração" da Banda Mais Bonita da Cidade. Como explicar as mais de 5 milhões de visualizações?


Claro, no caso de um clipe musical, é preciso considerar vários fatores, como a simplicidade da música e o uso constante da redundância (assim como fez Rebecca Black em "Friday").

"Oração" também aproveitou outro recurso que atrai e prende a atenção de algumas pessoas. Trata-se do uso do plano-sequência que a propósito, foi utilizado por outro "viral" da mesma época, produzido pelos moradores da cidadezinha de Grand Rapid no Michigan (EUA):


Bom, mas o fato é que em todos esses casos que citei até agora, o fetiche pela mobilização torna-se visível. Uma reflexão pelo viés sociológico poderia considerar se esse sintoma não estaria relacionado diretamente com o surgimento de uma geração de jovens (chamados de Geração Y) ainda em busca de um motivo maior e um sentido para sua existência social. E claro, o discurso da Psicologia poderia facilmente abordar a necessidade social de um jovem em busca de da identidade.

Para quem está focado na área da Comunicação, vale tentar aprofundar essas questões a partir do conceito de "flashmob", já discutido desde o início desse século. Mais recentemente Charlene Li cunhou o termo "groundswell" que também vale a pena conhecer.

Nos dois conceitos, a atitude de mobilização está diretamente relacionada com o fator da espontaneidade; por isso é muito difícil prever o que vai, ou não, fazer sucesso e "viralizar" espontaneamente.

Apesar de não conseguir prever ou planejar, a minha dica é: tente sempre observar se o "fato" consegue estimular, por si só, uma distribuição espontânea. É a agilidade dessa distribuição espontânea que consegue tornar visível a mobilização e assim potencializar ainda mais sua distribuição, tornando-o um "hype" em pouco tempo.

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