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O "efeito Obama" nas eleições de 2010 no Brasil


Hoje acompanhei a palestra de Ben Self, estrategista da campanha digital de Barack Obama. A palestra faz parte do seminário sobre Estratégia de Comunicação e Marketing da The George Washington University. É patrocinado pelo Grupo Santander Brasil. Acontece hoje e amanhã aqui em São Paulo.

Na abertura, o reitor da The George Washington University, Christopher Arterton, lembrou que a democracia vive uma fase de transição; o que aconteceu nos EUA está acontecendo mundialmente. É verdade. A era digital e sua influência na construção política do país não é exclusividade dos americanos. Sem dúvida as próximas eleições no Brasil em 2010 não serão como as anteriores.

Ben Self foi um dos principais planejadores das ações online da campanha de Barack Obama. Foram investidos cerca de US$500 milhões apenas em ações digitais. Para que esse post não fique longo demais, vou comentar e ressaltar apenas alguns pontos principais:

- O estrategista disse que o e-mail foi uma das principais ferramentas da campanha online. A captação do mailling começou cerca de 2 anos antes das eleições.

- O e-mail foi a ferramenta utilizada para manter contato com os eleitores, atraí-los para o hotsite da campanha, que na verdade era uma rede social exclusiva da campanha, denominada "MyBO".

- A teórica de comunicação Lucia Santaella, costuma dizer que transitamos da cultura das massas para uma nova cultura digital que possui características próprias. Chris Anderson, em seu livro "A Cauda Longa", fala de uma "desmassificação" gradual da economia. Ben Self provou essas teorias. Durante a campanha foram arrecadadas cerca de 2,9 milhões de doações em valores abaixo de US$100.

- Depois que alguém faz uma doação, seu engajamento e envolvimento cresce numa proporção infinitamente superior ao valor doado. Ao invés de investir e correr atrás de alguns grandes doadores, vale mais conquistar milhões de pequenos doadores.

- Engajamento, fidelização e mobilização devem ser objetivos constantes em todas as ações. A rede social "MyBO" oferecia diversas ferramentas para estimular o engajamento, dentre elas, o recurso que permitia observar sua posição no mapa e as pessoas que estavam próximas da sua região e também faziam parte da comunidade.

- O Youtube foi uma ferramenta essencial para expor a opinião e projetos do candidato Obama. Seu discurso publicado no Youtube foi o mais visto até então em toda história das eleições americanas.

- Envolvimento emocional foi a palavra-chave da palestra de Ben Self. Todos os vídeos da campanha que mostravam o candidato ou eleitores continham algum apelo emocional. Acredito que este seja um fator importante para observar em nossas eleições de 2010. Será que os políticos brasileiros conseguirão trabalhar corretamente o valor emocional para envolver e engajar seus eleitores?

- Outra mudança de paradigma é a relação informal com o público. No Brasil, a rede Globo, que sempre impôs um perfil sóbrio, agora se vê em meio a um novo modelo de relação com o público, em que personalidades como Luciano Huck e Willian Bonner possuem uma comunicação direta e informal através do Twitter (@huckluciano e @realwbonner). No campo da política brasileira, os primeiros a trilharem esse mesmo caminho foram Soninha Francine (@SoninhaFrancine) e José Serra (@JoseSerra_).

- A campanha de Obama foi recheada de vídeos no YouTube mostrando seu dia-a-dia e seu relacionamento com a família e amigos. Uma maneira de transmitir informalidade e transparência.


- Frequência e regularidade no contato com os eleitores garantia o envolvimento. Aqueles que se cadastraram na rede recebiam constantemente, mensagens com algum novo conteúdo, seja um projeto, uma solicitação de doação ou a indicação de um novo vídeo no Youtube.

- Últimas recomendações: É importante fazer uso dos diversos ambientes digitais (Orkut, Facebook, Twitter, etc) mas é preciso orientar as pessoas para um único local. De preferência, seu próprio hotsite, local em que terá maior liberdade para desenvolver as ações.

- É preciso evitar a qualquer custo o discurso institucional. O modelo do release está velho e ultrapassado. Ninguém gosta de receber uma comunicação em que não fique claro a pessoa que enviou. Não encaminhe uma mensagem assinada por um departamento. Nomeie alguém que assinará aquela mensagem em nome do departamento.

Bom, estes foram apenas alguns dos tópicos abordados. Nota-se que há muito o que mudar para 2010. Particularmente, acredito que o maior desafio seja estabelecer um relacionamento informal e construir um envolvimento emocional com o eleitor; já que vivemos uma cultura de negação política. A corrupção e a falta de credibilidade dos nossos políticos desfavorecem o engajamento público.

Por fim, deixo o convite para a leitura de outro post onde comentei sobre a possível "poluição virtual" que veremos assim que começarem as campanhas eleitorais.

Nesse mesmo post, deixo a dica: "nas redes sociais é preciso ser discreto e adequado. Ouvir mais e falar menos. É preciso dar o poder de voz ao eleitor."

Como acompanhar o evento:
Durante todo o dia de hoje e amanhã, é possível acompanhar a cobertura realizada pelos meios oficiais e também a cobertura colaborativa, realizada pelos participantes/ouvintes. Abaixo os links:
- Os principais fatos do evento serão registrados no blog O Efeito Obama e no blog Valor das Ideias, do Banco Santander, que está realizando a cobertura oficial com a colaboração do Alexandre Inagaki (blog Pensar Enlouquece);
- Há também o perfil no twitter @valordasideias e @efeito_obama. Ambos enviam flashes sobre cada uma das palestras durante todo o dia;
- E a cobertura não-oficial, também pelo twitter, pode ser acompanhada a partir das tags #efeitoobama e #valordasideias

3 comentários:

  1. Com certeza este é um dos exemplos que devem ser seguidos , nas eleições em 2010, com as devidas adatações a realidade Brasileira.

    Acho que o Brasil tem profissionais que se destacam no mercado e tem competência para fazer uma campanha melhor que a realizada nos estados unidos .

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  2. Até posso concordar com o Arnek sobre os profissionais competentes, mas o problema é que aqui não há políticos tão 'obamas' para que uma campanha nas redes consiga exito. Por exemplo, não é nenhum pouco certo afirmar que os votos de Lula migraram para Dilma. Sem partidarismo, um político que poderia gerar este sentimento populista é o Aécio Neves, creio que ele tem o perfil adequado para se trabalhar nas redes, mas se o partido não quer. O Serra se esforça, mas não é um candidato que possa mobilizar massas e atuar em ambientes on line.

    Sobre o post, perfeito, dá para ter uma bela ideia do PLANEJAMENTO de campanha, pois começaram há dois anos das eleições a buscar mailling. Grande aula de uso de redes sociais, se nao me engano tambem foram usadas mensagens por celular para comunicar com os que doavam $$ para a campanha. No twitter, durante o dia nao consigo acompanhar, mas por aqui o texto está ótimo.

    MATEUS

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  3. Muito bom o post Eric!
    Basicamente pelo que pude ver o conteúdo desta visita foi o mesmo quando a Ag2 trouxe ele em Maio.

    Ele tb faz parte do nosso documentario Obama Digital.

    Vamos terminar filme nesse próximo domingo!

    Quando chegarmos na fase de divulgação fornecerei mais detalhes!

    Parabéns pelo E-code, sempre cheio de conteúdo relevante.

    Abs

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