O “homo digitalis” finalmente conseguiu sair da sua posição curvada diante do microcomputador
O próximo que perguntar por que as redes sociais fazem sucesso no Brasil, vou sugerir que faça um passeio pela orla de Maceió.
Eu confesso minha falha: não conhecia Maceió. E confesso também que peguei Maceió para Cristo. Não estou rotulando. De fato, não é apenas lá que é assim. O Brasil todo tem características que corroboram a estrutura das redes sociais; mas para efeito de ilustração, manterei minha narrativa sobre a experiência que vivi em Maceió.
Faz-se amizade rapidamente por lá. Num táxi, num quiosque de praia ou caminhando pelo calçadão. Sem que você perceba talvez já tenha contado sua vida inteira para um desconhecido que, dez minutos atrás, te abordara para uma conversa informal.
Aliás, desconhecido uma ova, pois a essa altura, você também já sabe a vida inteira do alagoano, inclusive quem ele gostaria que fosse o próximo técnico da seleção brasileira. É uma experiência semelhante a de visitar o perfil de um desconhecido no Facebook, só que a céu aberto, de frente para o mar, em Pajuçara. Quer coisa melhor?
Esse povo extrovertido e receptivo poderia servir como fonte de referência para a construção nas redes sociais, do relacionamento entre marcas e seus consumidores. Essa informalidade natural é a chave para a tão falada “humanização” das marcas.
Lucia Santaella fala em tecnologias de conexão contínua, quando se refere às tecnologias que estimulam a conversação contínua e constante que aprendemos a estabelecer pelas redes. As empresas precisam aprender a participar dessa conversação.
Outra coisa muito importante: não seja antiquado ao sustentar a premissa de que o Nordeste é uma região com baixo potencial digital. Posso garantir que não foi isso que vi por lá. Enquanto caminhavam e aproveitavam o sol, vi muitos consultarem suas mensagens do Facebook pelo celular.
No quiosque Guaraná Ponta Verde, enquanto não chegava um novo cliente, o atendente ficava entretido com seu smartphone, assistindo à dança do Gangnam Style. Por favor, uma reação de surpresa agora: a febre do Gangnam Style já alcançou até o rapaz da barraca de açaí em Maceió. Alguém conte isso ao Psy.
Eu fico aqui sem me aguentar de tanta ansiedade. Quero só ver quando o 4G e o wifimax chegarem por aqui, ou melhor, lá em Maceió.
O “homo digitalis” finalmente conseguiu sair da sua posição curvada diante do microcomputador. Agora ele pode ficar ereto, graças à mobilidade oferecida pelos dispositivos móveis.
Até 2016, a expectativa é de que 60% dos celulares no Brasil sejam smartphones. Ou seja, para comunicar sua marca, esqueça campanhas digitais que se resumem em hotsites e banners. Pense na mobilidade. Lembre-se de que o consumidor não está mais sentado na frente do desktop. Ele está na rua, com um smartphone na mão. Sua mensagem precisa participar desse contexto.
E mais: se você acha que já viu todo o potencial da tal “social TV”, é porque ainda não viveu os próximos anos que virão pela frente. Assistiremos à novela, ou à nova temporada do The Voice Brasil, pelo smartphone, dentro do ônibus ou metrô. Enquanto assistimos, trocamos opiniões e comentários com nossos pares pelas redes.
A Rede Globo já percebeu que seu conteúdo não cabe mais apenas dentro da televisão. Além dos episódios para TV, a novela poderá ter dezenas de “drops” complementares; lançados na internet entre um capítulo e outro. O que foi feito com as Empreguetes em Cheias de Charme é fichinha perto do que está por vir.
E você, meu amigo publicitário, não pense que vai enfiar um filme de 15 segundos antes e depois desses “drops”. Seria um desrespeito ao consumo de dados do internauta. Vá exercitando a ideia de incorporar seu produto em meio à narrativa da novela, ou, então, dentro da conversação gerada por ela nas redes sociais.
É bom lembrar-se de que isso tudo são apenas devaneios de alguém que não tem muito o que fazer enquanto o avião não pousa de volta a São Paulo, mas peço para que se lembre desses meus insights, quando ouvir falar que estão implantando a rede 4G na sua cidade.
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Publicado originalmente na coluna da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXIV, núm.: 1539, pág. 10. São Paulo: Editora Meio e Mensagem, 10/12/2012.
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