A sociedade é liquida, o mundo é liquido, e assim são também os meios digitais.
Foi-se o tempo em que falar “sozinho”, andando pela rua, parecia estranho. Hoje é natural ver pessoas tendo conversas esfuziantes com outro alguém pelo celular, enquanto caminham pela Avenida Paulista. A mesma cena acontece diariamente na 5ª Avenida, em Nova Iorque; mas lá o celular fica no bolso, pois muitos americanos já se acostumaram a andar com o fone bluetooth pendurado no ouvido. Estranho? Não mais.
E isso deve ir além. Em no máximo 5 anos também não será mais estranho ver alguém “conversando” com seus gadgets. Falar com a TV ou a geladeira será algo natural.
Provavelmente começaremos falando com nossos celulares e tablets. Isso será possível pois em breve estarão disponíveis softwares denominados VPA’s (Virtual Personal Assistants). Em resumo, tratam-se de aplicativos inteligentes que poderão, por exemplo, verificar automaticamente a disponibilidade de passagens e hotéis; e depois de consultá-lo, fazer a reserva. Você não precisará mais passar horas pesquisando no Google. Seu assistente pessoal fará isso para você. É só pedir, em viva voz!
De fato, não me importa o quão estranho pode ser a cena de alguém mantendo um diálogo com seu iPad. Interessa-me pensar como o meio digital está impressionantemente inserido no cotidiano da nossa sociedade.
Os meios de comunicação agora são mais complexos do que nunca. O digital não se resume mais a um espaço dentro da internet. McLuhan, em seus 100 anos, teria muito a comemorar. A complexidade da comunicação digital abandona o rótulo do “canal” e abre espaço para os aplicativos inteligentes que interagem conosco.
Já para o criativo da agência, interessa que se hoje querem que ele crie um anúncio interativo para iPad, amanhã irão pedir uma campanha baseada num novo serviço de VPA. É por isso que algumas agências já introduziram em sua equipe o tal do Creative Technologyst. O cara que conhece todas as novas tecnologias e se for preciso, cria uma nova, própria para as necessidades do seu cliente.
Meu medo é a acomodação. Nos últimos anos, muitos incluíram o código QR em seus anúncios, mas quantos souberam fazer algo realmente criativo e relevante com essa tecnologia?
Mark Holden, Diretor de Planejamento e Estratégia Global da Phd, acredita que a publicidade seguirá o caminho da produção de mensagens one-to-one, conforme avança a digitalização dos meios “tradicionais”. Logo, toda a comunicação, seja da TV, do rádio ou do iPad, poderá ser personalizada a partir de tecnologias de reconhecimento de face ou pela simples identificação do endereço IP.
Outra boa aposta da Phd é a comunicação por NFC (Near Field Communication). Trata-se de uma tecnologia que assemelha-se a um bluetooth de baixíssimo alcance. Para que a troca de dados ocorra, é necessário que os dois dispositivos fiquem bem próximos. Quem participou do evento Expo Y realizado recentemente viu o NFC em funcionamento. Um chip distribuído para cada um dos participantes permitia a troca digital de informações entre os participantes, bem como a interação com sistemas online instalados nos estandes da Vivo e da Telefônica. Divertido e inovador. Por enquanto.
De qualquer forma, concordo com Holden, em breve toda a comunicação da nossa sociedade partirá de um dispositivo móvel. Como diria Bauman, a sociedade é líquida, o mundo é liquido, e assim são também os meios digitais. A publicidade deveria prestar mais atenção nisso. Viu agora o porquê da Coca-Cola passar a utilizar o conceito de “ideia liquida”?
Enquanto isso, no mundo físico, veremos a constante invasão do digital. Susanna Kempe, CEO da WGSN (uma das mais importantes agências de tendência do mundo) acredita que a nova moda da publicidade serão as projeções de videomapping 4D. Com certeza você já ouviu falar do videomapping 3D, as tais animações digitais projetadas nas fachadas dos edifícios e monumentos. Acrescente aí aparelhos que emitem odores em sincronia com as projeções e teremos o videomapping 4D. E aí? Qual marca quer ser a primeira a usar videomapping 4D no Brasil?
Como disse antes, é fácil ser o primeiro. Difícil é ser criativo e relevante no uso destas novíssimas tecnologias da comunicação.
Foto: bobaloorox
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Publicado originalmente na coluna da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXIII, núm.: 1471, pág. 08. São Paulo: Meio e Mensagem, 08/08/2011.
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