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Trocando tweets com meus alunos


No artigo anterior, comentei que vivemos uma fase de "supervalorização das mídias sociais". A intenção era mostrar como estamos dando mais importância para os canais de comunicação (twitter, facebook, etc) do que para o seu conteúdo. O teórico Marshall McLuhan já havia notado algo similar com a TV durante a "era da televisão".

Ele estava certo, o meio "molda" a mensagem. Desde a invenção do pager, e posteriormente o SMS, aprendemos a nos comunicar por mensagens curtas e rápidas. E McLuhan foi além disso; ele dizia que os meios eram capazes também de gerar transformações nas próprias pessoas. É isso que gostaria de abordar desta vez.

Veja um exemplo, quando publico um mesmo artigo tanto no jornal quanto no meu blog, já notei que a reação dos leitores é diferente. Além de receber um volume maior de “feedbacks”, no meio digital as pessoas querem aproveitar a situação para estabelecer um diálogo. Ou seja, na internet a interatividade é inerente; diferente do meio impresso.

Não quero dizer que um meio é melhor que outro. Quero apenas enfatizar a importância em observar a diferença na relação/reação que cada meio provoca e a transformação gerada nas pessoas.

Abrindo o olhar
Faço um convite: ao invés de focar nos meios de comunicação, tente observar a nova dinâmica social que emerge destes espaços e abrir o olhar para além do campo da publicidade.

Veja por exemplo, como as redes sociais transformaram o processo de ensino-aprendizagem. O twitter e o facebook acabaram por aproximar a relação que mantenho com os meus alunos e a estenderam para além dos limites da sala de aula.

Mais uma vez, não quero denotar qualquer juízo de valor. Há prós e contras, mas o fato é que vivo hoje uma nova dinâmica de relacionamento entre professor X aluno. Amplifiquei minha participação no dia-a-dia deles. Descobri também que a expectativa deles aumentou. Alguns já me acompanham pelas redes antes mesmo de se tornarem meus alunos. Também passei a estender o contato com os ex-alunos. A troca não termina mais no dia da formatura. Ela deixa de existir na sala de aula, mas continua pelas redes.

Nas empresas acontece o mesmo. A vida profissional e a particular começam a se misturar, trazendo novas situações para dentro da empresa. Tente imaginar como se dará a produção de conhecimento numa empresa em que a comunicação de todos os funcionários é moldada por uma plataforma social? Como será ter um chefe que envia “DM´s” no seu twitter e faz parte do seu foursquare?

E a área econômica? Imagine a repercussão que um boato espalhado por especialistas econômicos pode causar na bolsa de valores? Isso sim será um belo "case" de geração de buzz para os publicitários estudarem. Em Nova Iorque uma corretora já resolveu investir em ações conforme a variação apontada por um monitoramento constante no twitter. Que tal isso?

Todas essas mudanças na dinâmica da sociedade são fontes de oportunidades para a publicidade. Observar e entender as pessoas é essencial para um publicitário. É essencial também na minha atividade como professor. Aliás, foi observando e trocando tweets com meus alunos que surgiram as reflexões para esse artigo.

Expectativas para o Festival de Cannes
Para encerrar, já que estamos próximos do Festival de Cannes, deixo aqui uma dica: fique de olhos nas campanhas que envolvam esse “olhar mais amplo” sobre a relação das pessoas com os meios de comunicação. Campanhas que possuem um conteúdo com aspectos da co-criação, colaboração e interatividade; e que podem estar no meio digital, impresso ou eletrônico; tanto faz, pois como disse, o meio em si não é mais o foco.

Um exemplo brasileiro é o Fiat Mio, que possui uma espécie de fusão entre branded content e social media. O próprio Festival já anunciou “crowdsourcing” como tema para diversas palestras do evento. Aproveitar o conteúdo produzido pelos próprios consumidores é um tema já muito discutido, mas pouco aplicado efetivamente na publicidade. Agora chegou a hora.



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Publicado originalmente na coluna da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXIII, núm.: 1463, pág. 8. São Paulo: Meio e Mensagem, 13/06/2011.

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