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Carta a favor da qualidade na publicidade brasileira

Aos dirigentes das grandes agências brasileiras,

Quando resolvi atuar no campo da educação, em especial na graduação do curso de comunicação e marketing, sabia que o envolvimento com o aluno seria inevitável. Por conta disso, sinto a necessidade de alertar aqueles que hoje controlam o mercado publicitário.

Pois afinal, vale lembrar que uma vez, no passado, estes que hoje regem a publicidade, eram apenas empreendedores-sonhadores que iniciavam, cada um, sua própria agência. Nessa época a equipe era pequena, regida em tempo integral por esse sonhador.

Hoje o cenário é outro. As principais agências fazem parte de grandes grupos comerciais. O número de clientes e contas atendidas pela agência é infinitamente superior. Se antes já não era estranho passar a madrugada em claro finalizando campanha, hoje isso é hábito, faz parte da cultura; quase uma tradição.

Porém o contexto econômico já não é mais o mesmo. Não se ganha com publicidade como antigamente. Não se paga como antigamente. Por conta disso, vejo uma tendência emergir; fico assustado com o volume de alunos do curso de publicidade e propaganda que relatam histórias semelhantes: seus chefes diretos, gerentes ou diretores, resolveram pedir demissão. Não aguentavam mais a pressão e o volume de trabalho. Provavelmente o salário já não compensava as madrugadas em claro.

Com a saída do gerente ou diretor, ao invés de contratar um profissional do mesmo porte, a agência efetiva o aluno-estagiário e ele passa a cuidar da área. Até ganha seu próprio estagiário. Aparentemente, fica a impressão de que houve um salto na carreira.

Mas a realidade é que esses recém efetivados chegam em minha sala de aula reclamando que na agência não há mais ninguém por perto com experiência profissional, alguém em quem eles possam se espelhar, ou ao menos, tirar as dúvidas do cotidiano. A média de idade de toda equipe fica próxima dos 23, no máximo 25 anos. É ótimo ter uma equipe jovem, porém falta experiência! O risco de um erro acontecer cresce. Não há maturidade suficiente para assumir tanta responsabilidade. E mais: um aluno comentou que fizeram uma enquete e descobriram que em toda a agência, apenas 3 pessoas tinham mais de 2 anos de casa...

Não podemos deixar a qualidade da publicidade cair ao obrigar a nova geração a aprender tudo sozinha. Temos que saber equilibrar a jovialidade de uma equipe recém formada com a experiência e repertório de profissionais reconhecidos.

Sei que não estou anunciando nada novo. Já até rotularam esse cenário como `juniorizaçao”; mas parece que agora a bolha deve estourar a qualquer minuto.

Não quero mais ver meus alunos perdidos e assustados com o cenário do mercado publicitário. Não quero mais ouvir sobre a falta de criatividade e inovação da publicidade brasileira. Senhores dirigentes dos grandes grupos de publicidade, por favor, reflitam sobre essas palavras.

Obrigado,

Eric Messa




8 comentários:

  1. Anônimo10:17 AM

    Oi Eric, sou o bruno, seu ex-aluno (que tem irmão gêmeo, rs). Então gostaria de dizer sobre a experiência que estou passando nessa minha vida de recém-formado. Dediquei minha época de faculdade aos estudos e deixei de lado os estágios. Hoje sofro conseqüências pois estou numa agência pequena, faço tudo sozinho e ganho muito pouco. Ou seja, acabo não aprendendo muito, só vivo no ambiente do mercado publicitário e fico meio que sem rumo. Vou buscar minha experiência em minhas capacidades para assim conseguir crescer. Outra coisa que me incomoda muito hj, é que grande parte dos clientes buscam o óbvio, o nada criativo. Querem o varejão, o preço e ver vendas. O diferenciado-o criativo VENDE! e muito!
    é isso Eric, muito bom o texto! obrigado por sempre buscar o melhor para seus alunos e para o futuro de nós publicitários!
    grande abraço

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  2. Acrescentaria mais um item a esse (tão realista) texto.Citando o fato de que, mesmo que as empresas contratem profissionais com experiência, na maioria das vezes eles migram das áreas que eles estavam insatisfeitos. E, com isso, não trazem em sua bagagem conhecimento útil àquilo que agora fazem junto ao "recém-formado experiente".

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  3. Eric! Lucidez pouca é bobagem. É isso mesmo. Sabe o pior? Não acontece só nas agências. Rola pelos portais; pelas redações; nas grandes, pequenas e médias corporações. Ninguém quer o custo de ter o profissional experiente e nem o ônus do erro dos jovens. E quem acerta sem errar? Há um problema sistêmico aí, que as corporações - sejam quais forem, onde estiverem - terão que aprender a resolver.
    Tem um trecho da fala do Manoel Lemos (BlogBlogs/Brasigo) para o Tiago Dória que tem tudo a ver com isso: inovação. Inovar, parece, também passa pelo profissional mais experiente na roda de produção.
    O link do vídeo: http://www.vimeo.com/976593
    bj

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  4. Eric, republiquei a sua carta no meu blog.

    De fato, infelizmente, nossa publicidade está perdendo muita força, e com certeza esse é um dos grandes motivos.

    Um abraço.

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  5. excelente comentário... mas vejo isso acontecendo principalmente nas agencias online, porque quem começou eram os jovens que começaram e abriram o mercado, mas que eles não tem nenhuma noção de administração e da importancia das pessoas na qualidade do "produto final". é uma vergonha isso... entra quem receber menos..
    aqui, por exemplo, somos mais de 70 pessoas e não temos nem RH nem nada... qualquer curso de administração decente mostra a importancia de saber administrar as pessoas..

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  6. Anônimo4:43 PM

    Olá Eric!
    Na realidade não discordo em tudo no seu post. Concordo com muita coisa. Na verdade, com quase tudo.
    A análise que fiz foi um pouco diferente, na realidade. O ponto de vista e o enfoque mudaram um pouco, mas o assunto geral não.
    Também fiz um desabafo, mas jogando a bola para os profissionais quadrados, em vez dos jovens inexperientes. De fato, o mercado está sobre forte pressão de ambos os lados. Jovens incapacitados e velhos desatualizados.
    Enfim, só queria esclarecer que não discordo de sua carta, mas sim me posiciono em uma critica baseada em outro ponto de vista: o dos jovens publicitários (somente dos capacitados, né?).

    Obrigado pelo comentário. Vamos nos falando!

    Abraços,
    André Bernardi

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  7. Gostei do texto e me serviu de alerta, pois estou procurando estágio na área.
    muito obrigado professor Eric pelo manifesto e apoio!!

    Valeu pelo curso de NTC foi muito proveitoso!!

    Abraço!

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  8. Anônimo2:17 PM

    O mercado é competitivo e ao mesmo tempo com poucas chances de crescer. Eu acredito que fazer uma faculdade de PP e não poder realmente "criar" por que as empresas querem o normal,é algo desanimador.Então, como nós estudantes, podemos contribuir para uma melhora nesse sentido?

    Professor muito obrigada por nos ensinar a cada dia, e obrigada pelas aulas do semestre!
    Beijos Giovanna Begliomini

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