Essa onda do politicamente correto é um tsunami que está devastando nossa cultura.
Não podemos dirigir sem cinto de segurança.
Não podemos fumar em locais fechados.
Não podemos fazer propaganda de cigarro nem bebida alcoólica.
Não podemos colar outdoors nem expor letreiros muito grandes.
Não podemos citar o concorrente e comparar um produto com outro num comercial.
Não podemos esquecer de enfatizar a sustentabilidade.
Estamos criando um imbróglio entre moral, ética e legislação. Ao poucos, tiramos o direito (e dever) do indivíduo de ter discernimento para gerir sua vida e transferimos essa responsabilidade para o governo. Este, por sua vez, passa a reger regras como uma mãe superprotetora, dizendo o que podemos ou não fazer e quais palavras devemos usar para designar grupos sociais ou raças. Você já deve ter notado a semelhança com o cenário que George Orwell imaginou em seu romance futurista “1984”, não?
Eu entendo as razões, mas discordo da prática desenfreada dessa cultura do controle e da vigilância. Se não precisarmos decidir mais nada, aos poucos criaremos uma sociedade da mesmice. Viveremos sob regras coletivas. Não teremos mais iniciativa própria e, consequentemente, perderemos nossa criatividade.
Essa onda do politicamente correto é um tsunami que está devastando nossa cultura. Mudaram até a letra da canção de ninar? Será mesmo que “Atirei o pau no gato” incitava à violência e atrapalhava a formação ética e moral da criança?
Outro dia vi uma reação enorme pelas redes sociais contra uma mulher que aparece num vídeo maltratando um cachorro. Poderia ser um gato. A mulher sem coração é assim por que cresceu ouvindo a tal canção? E os milhares que repudiaram o vídeo, cresceram ouvindo outra coisa? Não precisa responder. Eu sei que não é tão simples assim.
De fato, é tão complexo que chega a alcançar desdobramentos a favor daqueles que só querem lucrar. Essa é a razão que me faz cada vez mais descrente de outro tema que envolve o discurso politicamente correto: a sustentabilidade.
Ver empresas trocando suprimentos ou realizando modificações em sua linha de produção a favor da economia dos recursos naturais, acho ótimo. Porém quando tudo isso vira argumento para justificar o aumento do preço do produto, chamo isso de green marketing da pior qualidade. A péssima estratégia de “maquiar” o compromisso socioambiental de uma empresa em suas peças de comunicação é tão comum que ganhou termo próprio: greenwashing.
O greenwashing é oriundo da tal onda do politicamente correto. Para uma boa imagem de marca é preciso que ela seja sustentável, nem que você tenha de falsear essa imagem, valorizando as ações sociais e encobrindo o desperdício de recursos naturais. Eu confesso, já cansei dessa exploração publicitária. Em vez do modismo da sustentabilidade, prefiro um simples hábito socioambiental responsável. Hábito não é diferencial de marketing. É DNA da marca.
Ética é algo que se elabora nas entranhas da cultura de uma sociedade. Difícil de manipular. Já a lei é passível de interferências e interpretações. Ainda assim ela rege o comportamento e molda a sociedade, por isso o politicamente correto busca sempre uma referência legal para defender seu ponto.
Por se tratar de um espaço de livre compartilhamento, o controle legal é mais difícil de ser executado na internet. Assim, apesar da fragilidade da minha afirmação, arrisco-me a dizer que as redes sociais estão livres do mal- -estar do politicamente correto, por enquanto. Vá até o YouTube, procure por “atirei o pau no gato” e veja por si.
Sou daqueles que acredita que há muito o que criar para as redes sociais, muito além do que estratégias para gerar “likes” no Facebook que enchem os olhos do cliente e dos jurados em Cannes mas que não foram gerados pelo público-alvo do produto.
Daqueles que entende que o risco da mesmice na internet é menor do que nas demais mídias, mas para isso dependemos do exercício contínuo da criatividade dos publicitários.
Conte comigo para ajudá-lo a aproveitar com ética, responsabilidade, discernimento e muita criatividade, esse espaço de comunicação ainda pouco explorado.
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Publicado originalmente na coluna da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXIII, núm.: 1519, pág. 08. São Paulo: Editora Meio e Mensagem, 23/07/2012.
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