E você?
Desde o século 18, a linguagem escrita foi priorizada para a documentação e transmissão do conhecimento. Assim, programamos infinitas gerações de humanos a reconhecerem o texto como um formato mais adequado para se comunicar. É por isso que, em vez de ouvir uma gravação da minha voz, você está lendo este meu artigo.
Claro, sempre existiram outras formas de comunicação, como a música, o teatro, o cinema e a televisão, esta última vista como revolucionária pelo teórico Marshall McLuhan, justamente por permitir um hibridismo de linguagens nunca alcançado em meios anteriores. Porém produzir conteúdo para esses meios exige uma produção que não é tão simples quanto apenas redigir um texto.
Ainda assim, a linguagem televisiva se desenvolveu bastante e chegou a influenciar toda a cultura de uma sociedade. A TV foi um personagem importante do que ficou conhecido como Era da Imagem. Começamos, afinal, a olhar para a imagem e tentar tirar dela mil palavras. Só que éramos analfabetos. Acabamos por construir uma relação doentia e passamos a supervalorizar a imagem. Ela ganhara mais importância que o real. A tal Era do Photoshop.
Hoje, essas imagens supervalorizadas e que mostram uma realidade fantasiada, continuam por aí, circulando por redes como o Instagram.
Porém é dentro dessas mesmas redes, que vi nascer uma nova forma de comunicação por meio das imagens. Na verdade, tudo começou muito antes do Instagram.
Na época em que celular com máquina fotográfica era uma grande novidade, os jovens passaram a registrar imagens do seu cotidiano e com elas conversavam entre si. O SMS começou a perder espaço para o MMS.
Em vez de enviar uma mensagem de texto convidando os amigos para encontrá-lo na quadra de futebol da escola, o garoto apenas enviava uma foto sua com a bola na mão. A menina fazia o mesmo para avisar a mãe onde estava. E assim começamos a aprender a conversar com imagens.
Rapidamente essa cultura ganhou as redes. A internet ficou povoada do que eram chamados de “fotologs”. Claro, muitos desses “fotologs” eram apenas sintomas de uma cultura do individualismo egocêntrico, mas, em meio a isso, havia aqueles que dialogavam entre si. Uma conversa contínua e infinita, pontuada por imagens.
O Twitter, que nasceu exclusivamente baseado na linguagem escrita, hoje já incorporou a possibilidade do registo de imagens. O Facebook, acredite ou não, já possui um volume de imagens arquivadas maior que qualquer outra rede exclusiva de imagens.
No entanto, vemos com mais facilidade o que descrevo aqui em redes segmentadas como o Instagram, o Tumblr e o Pinterest. As imagens que são publicadas nessas redes muitas vezes são “respostas” de outras imagens que apareceram anteriormente na timeline do usuário. A vista de uma janela, por exemplo, pode estimular a publicação de dezenas de outras vistas, construindo um diálogo entre essas imagens.
Assim, o crescimento da publicação de imagens nessas redes é uma constatação da minha afirmação que dá título para este artigo: estamos conversando através de imagens.
Como publicitário, instiga-me pensar nas possibilidades que surgem. Afinal, o campo da publicidade é talvez aquele que melhor sabe lidar com a transmissão de mensagens por meio das imagens. Fazemos esse exercício há décadas, mesclando imagens e textos curtos para transmitir uma mensagem publicitária.
Somos capazes de criar anúncios exclusivamente com imagens e garantir que a mensagem seja compreendida pelo público-alvo. São tão brilhantes que chegam a ganhar prêmios.
Já sabemos, portanto, usar a imagem para construir uma mensagem. O que nos falta apenas é aprender a conversar através dessas imagens. Afinal, sabemos fazer publicidade dentro do Instagram? Do Tumblr? Do Pinterest? Não.
Definitivamente não é tão simples quanto inserir na rede aquela mesma peça que foi publicada na revista. Um anúncio é um monólogo. Precisamos aprender a construir diálogos!
Gaste alguns neurônios, tentando transformar aquele monólogo da revista num diálogo dentro do Instagram. O que lhe parece? Quer ser um dos primeiros a criar uma campanha assim?
Como sempre, os pioneiros ganharão destaque e repercussão. E aí? Aceita o convite?
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Publicado originalmente na coluna da edição impressa do jornal Meio e Mensagem, ano XXXIII, núm.: 1505, pág. 10. São Paulo: Editora Meio e Mensagem, 30/04/2012.
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