Qual, exatamente, o propósito disso tudo? Vivemos o dia-a-dia, trabalhamos, nos relacionamos com outras pessoas, interagimos. E qual o propósito disso tudo?
Nascemos para viver em sociedade. Viver em sociedade implica na participação de situações que estimulem a interação entre as pessoas. Criamos um sistema complexo de consumo que envolve toda a sociedade. Esse sistema opera sob uma dinâmica cada vez mais veloz, ocupando grande parte da vida de cada um de nós.
Durante esse processo de “relacionar-se” com o outro surgem os envolvimentos afetivos, passamos a amar e odiar outras pessoas, por fatos e situações, que vistos à distância perdem completamente a importância. Alguns morrem por razões que, vistos fora daquele contexto, não fazem sentido algum.
Somos por fim, elementos solitários, individuais, imersos em um mundo enorme de outros indivíduos, solitários. Para compensar essa solidão, escolhemos viver em sociedade. O “relacionar-se” nos move do estado de solidão para um estado onde é possível compartilhar experiências com o outro.
Essa troca de experiências acontece através de um processo de comunicação, mas nesse caso, a comunicação no seu sentido mais amplo possível, pois não se trata de uma comunicação verbal exclusivamente, mas toda a forma de comunicação, inclusive aquelas que envolvem os sentidos.
Numa época movida pela ênfase dos sistemas de comunicação descentralizados, é apropriado comparar cada indivíduo como um sistema próprio de comunicação, que faz a distribuição da informação para determinado número de outros seres, que por sua vez são distribuidores de informação para outros grupos de indivíduos e assim por diante. Temos então uma rede complexa formada por indivíduos interligados, em que o processo de distribuição de informação seria uma alusão ao processo de relacionamento existente entre tais indivíduos.
Com o olhar atento para essa ilustração, podemos entender como funciona, por exemplo,a disseminação de um novo dado dentro de uma cultura, ou como uma determinada cultura é influenciada por outra, pois afinal essa rede está ligada de diferentes maneiras com outras redes geograficamente distantes. Essas ligações são os espaços em que podemos inserir os veículos de comunicação, mas aqui adentramos a um campo específico da teoria da comunicação que não é o caso nesse momento.
De volta ao tema, vamos discutir essa dinâmica que criamos, essa dinâmica na qual estamos imersos e dificilmente conseguimos parar para refletir sobre ela. Pois o processo de reflexão exige daquele que pretende praticá-la um esforço para criar um distanciamento, o que, de fato, é impossível.
O mínimo distanciamento obtido já causa uma angústia por se colocar num espaço estranho àquele de origem. O distanciamento implica na visão também distanciada de toda a dinâmica de relação dos indivíduos. É o problema vivido pelos antropólogos.
O distanciamento gera um estado de incapacidade de ação, onde nos portamos como um cientista, que observa uma experiência por detrás de uma barreira de vidro, que esta ali posta para protegê-lo, mas também o impede de participar ativamente da experiência, pois o vidro separa o cientista do seu objeto de estudo.
A permanência nesse estado de reflexão vai ampliando esse distanciamento, causando um afastamento cada vez maior desse indivíduo em relação à sua sociedade. Por fim ele não mais se reconhece como pertencente àquela sociedade, não mais compreende sua dinâmica, aceita suas regras ou compreende a evolução de sua história, torna-se assim, um indivíduo, um solitário em um estado de pleno vazio, sem por fim, ter descoberto o propósito disso tudo.
OBS: Esse texto foi escrito em 2006, porém publicado somente agora, para "acompanhar" a matéria de capa revista Veja: "Nos laços (fracos) da internet".
Que dramático :D
ResponderExcluirEric,
ResponderExcluiré impossivel ler esse texto. foi mal